29.8.15

A formação do imaginário

O imaginário é um lugar, na alma humana, em que nasce toda a inteligência. Sua misteriosa ordem gera crenças e valores que nos dominam por dentro, influenciando e às vezes determinando o que pensamos e sentimos. Formar corretamente o imaginário é, portanto, condição sine qua non do desenvolvimento humano - do ponto de vista intelectual, psicológico e moral. 

22.8.15

O que é imaginário?

Embora tratado pela filosofia moderna e psicologia, entre outras ciências, como realidade psicológica vinculada à imaginação, geralmente em oposição à realidade, ele é muito mais do que isso. Em verdade, o imaginário é a contraparte de um dos planos da realidade concreta, formada também pelo mundo imaginal (onde encontramos, por exemplo, os mitos e arquétipos).

Aqui, no entanto, é bom deixarmos as tentativas de definição de lado. Trata-se de um mundo de símbolos, não de conceitos. Não o visitamos, nem conhecemos, senão através de discursos analógicos. Por exemplo, tomemos imaginário e imaginal como faces de uma mesma moeda e reparemos como isso diz muito mais e melhor sobre essa realidade que os unifica do que muitos discursos descritivos e analíticos. Outra metáfora bem ilustrativa é a do guarda-roupas, cunhada por Edmund Burke para se referir ao que "guarda" a "imaginação moral", também utilizada por C. S. Lewis como porta de entrada para seu mundo das famosas crônicas de Nárnia, adivinha em que "mundo" fica Nárnia?

Falar dessa realidade, portanto, é falar metaforicamente de um lugar. Nesse sentido, o imaginário de cada um pode ser vasto ou ínfimo, ser do tamanho de um grande país ou uma rua estreita; oceano, ou poça d'água. Sua amplitude é maior ou menor, conforme a disposição natural e a educação que cada indivíduo tenha recebido, nisso inclusos elementos do mundo imaginal. Além do tamanho, ele também possui diferentes modos de organização, que podem ser mais ou menos eficientes, coesos, etc.

Tanto a estrutura como a abrangência do imaginário dependem, pois, de um processo de formação que principia quando o indivíduo começa a receber imagens do mundo, pelos cinco sentidos, e também do mundo imaginal, cujas fontes são as mais variadas (por exemplo: contos de fadas e ritos, como batizados, etc). O processo se complexifica com o desenvolvimento da memória e da imaginação - duas faculdades intimamente ligadas ao imaginário - que podem buscar experiências do passado e transformá-las, produzindo combinações mais ou menos criativas.

Qual é a diferença, então, entre imaginário, memória e imaginação?

"Memória" é aquele repositório de imagens recebidas desde o nascimento, a partir do qual se torna possível a noção de "biografia" (embora essa mesma noção dependa ainda de um processamento sofisticado da memória, e portanto, não possa confundir-se com ela). "Imaginação" é uma faculdade que transita entre a memória e os cinco sentidos, buscando, combinando e modificando as impressões antigas e recentes. "Imaginário", enfim, é o universo mais amplo que se compõem de memórias e criações, de impressões com os mais diversos graus de interferência, do próprio sujeito, e que talvez, pudéssemos definir como o "mundo interior" em que vive o "eu".

Ora, esse "mundo interior" deve estar, por natureza, sujeito a constantes mutações, já que recebe a interferência ininterrupta de novas imagens coletadas pelos sentidos e da própria ação da imaginação; não obstante, há nele certa fixidez, derivada do seu tipo de organização - que o sujeito recebe (mais uma vez) em parte da organização do próprio mundo imaginal que o rodeia, em parte de suas próprias inclinações, em parte da memória e da educação. Portanto, seja qual for a constituição do imaginário, é evidente que ela deve ter considerável influência sobre os pensamentos e sentimentos do indivíduo, às vezes ao ponto de determiná-los completamente, tornando-se verdadeiro princípio formador de sua personalidade. 

Tomar consciência do que está subjacente à organização de imagens no "mundo interior" é descobrir o que poderíamos chamar de "visão de mundo", sinalizando que não se trata ainda de um posicionamento meditado, mas de algo como uma predisposição geral e semi-consciente para observar, pensar e sentir certas coisas e de certo modo. Essa tomada de consciência é indispensável, tanto mais porque, embora o imaginário não seja racional em si mesmo, a inteligência humana deve trabalhar sobre ele, como ensinavam os escolásticos: nihil in intellectu nisi prius in sensu, etc.

E com essa tomada de consciência é inevitável não descobrir, também, que uma visão de mundo nunca é construída isolada da visão de mundo prevalente na família, sociedade, na cultura em que se vive. Ou seja, mais do que uma relação entre essas visões, há verdadeira dependência, ainda que parcial, ao menos até essa conscientização.

Algumas perguntas se insinuam quase de imediato: como exatamente tomar consciência disso? De que modo o imaginário influi sobre o comportamento humano, e até que ponto? Quais são seus riscos? Existe defesa contra essa influência? Senão, há algum modo de aproveitar-se dela para o bem? É possível reformar o imaginário, caso haja necessidade disso? No curso A introdução à formação do Imaginário, trato desses problemas, tendo diante de mim, como objetivo primeiro fornecer o instrumental necessário para essa tomada de consciência e ajudar no desenvolvimento psicológico, intelectual e moral dos alunos.

9.8.15

Vaticano II: Hermenêutica da continuidade ou da ruptura

Prof. Alberto Zucchi e Robson Nascimento, da Associação Cultural Montfort, respondem a perguntas sobre a hermenêutica da continuidade ou da ruptura, na análise do Vaticano II - categorias lançadas por Bento XVI em seu Discurso à Cúria de 22 de dezembro de 2005.

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