9.3.15

A liberdade

"Irmãos, vocês foram chamados para serem livres. Que essa liberdade, porém, não se torne desculpa para vocês viverem satisfazendo os instintos egoístas. Pelo contrário, disponham-se a serviço uns dos outros através do amor" (Gálatas 5:13).

A liberdade sempre foi o grande sonho da humanidade, mas principalmente na época moderna. 

Martinho Lutero (líder da Reforma Protestante) inspirou-se neste texto da Epístola aos Gálatas e a conclusão foi de que a regra monástica, a hierarquia e o magistério lhe pareciam como um julgo de escravidão do qual era preciso se libertar.

Posteriormente, o período do iluminismo foi totalmente guiado por este desejo de liberdade, que se julgava ter finalmente alcançado. Mas também o marxismo se apresentou como estrada em direção à liberdade.

O que se defende não é a liberdade, mas o libertinismo. O eu absoluto, que não depende de nada e nem de ninguém, que é livre para fazer tudo o que quiser. Isto é a degradação do homem, não é a conquista da liberdade: o libertinismo não é liberdade, é antes a falência da liberdade.

São Paulo ainda acrescentou "[...] disponham-se a serviço uns dos outros através do amor". Isto é, a liberdade se realiza paradoxalmente no servir. Nós nos tornamos livres, se nos tornamos servos uns dos outros. Paulo coloca todo o problema da liberdade na luz da verdade do homem. Uma vez que o homem não é um absoluto, quase como se o eu pudesse isolar-se e comportar-se somente conforme a própria vontade. É contra a verdade do nosso ser. 

A nossa verdade é que, antes de tudo, somos criaturas de Deus e vivemos na relação com o Criador. Somos seres relacionais. Somente aceitando esta nossa relacionalidade entramos na verdade, de outro modo, caímos na mentira e nela, ao fim, nos destruímos.

Somos criaturas, portanto dependentes do Criador. No período do iluminismo, isto aparecia como uma dependência da qual era necessário libertar-se. Na realidade, porém, dependência fatal seria somente se este Deus Criador fosse um tirano, não um ser bom, somente se fosse como são os tiranos humanos. 

Mas a relacionalidade criatural também implica num segundo tipo de relação. Estamos em relação com Deus, mas juntamente com isso, como família humana, estamos também em relação um com o outro. 

Este é outro ponto de grande importância. Somente aceitando o outro, aceitando também a aparente limitação que deriva para a minha liberdade do respeito pela do outro, somente inserindo-me na rede de dependências que nos faz uma família única, estou em caminho para a libertação comum.

Contudo, qual é a medida da participação da liberdade? O homem precisa de ordem e de direito, para que possa assim realizar-se a sua liberdade, que é uma liberdade vivida em comum. Como podemos achar esta ordem justa, na qual ninguém seja oprimido, mas cada um possa dar a sua contribuição para formar esta espécie de concerto das liberdades? Se não há uma verdade comum do homem tal qual aparece na visão de Deus, permanece somente o positivismo, e se tem a impressão de algo imposto. Daí, essa rebelião contra a ordem e o direito como se se tratasse de uma escravidão.

Mas se podemos encontrar a ordem do Criador na nossa natureza, a ordem da verdade que dá a cada um o seu lugar, ordem e direito podem ser exatamente os instrumentos da liberdade contra a escravidão do egoísmo. Assim, a primeira realidade a respeitar, portanto, é a verdade: liberdade contra a verdade não é liberdade. Servir um ao outro cria o espaço comum da liberdade.

Portanto, sem a verdade não há ordem e nem direito, sem ordem e sem direito, não há verdadeira liberdade, tornamo-nos ao invés de homens livres, escravos de nossas paixões, buscando apenas o prazer próprio, longe do serviço para com os irmãos.

Adaptação de Montfort

1.3.15

A verdade

"Se vocês guardarem a minha palavra, vocês de fato serão meus discípulos; conhecerão a verdade, e a verdade libertará vocês" (João 8:32).

Nos dias de hoje, o que mais se escuta é a afirmação "a verdade não existe". Se diz que cada um tem a sua opinião, que não existe verdade e cada um passa a agir de acordo com as próprias convicções.

Entretanto, a verdade é objetiva e não subjetiva. A verdade depende do objeto ou da realidade e não do sujeito. É o objeto ou a realidade que produz a ideia e não a ideia que produz o objeto.

Sendo assim, a verdade é a adequação da ideia ao objeto, é o objeto que define a ideia. A verdade é captada por nossa inteligência.

No entanto, para o mundo atual é o sujeito que produz a realidade. Imagine que você resolveu pegar carona com um amigo. Porém, ele entra na contramão, vem um caminhão na direção de vocês. Você avisa o seu amigo, mas ele afirma que não vê o caminhão, pois o caminhão na opinião dele não existe e continua seguindo na contramão... Veja bem, não é a nossa ideia que cria o caminhão. Ele não depende da nossa opinião, continua existindo apesar daquilo que achamos sobre ele.

Se não temos uma ideia comum baseada no ser concreto, nós vivemos num mundo de sonhos, cada um no seu sonho. O que torna impossível qualquer diálogo. Só se pode conversar, jogar xadrez ou futebol se temos a mesma ideia retirada dos objetos.

Tal subjetivismo teve início com o livre-exame da bíblia de Martinho Lutero (líder da Reforma Protestante), que consistia em cada um ler a bíblia e fazer sua própria interpretação. O idealismo alemão (Fichte, Schelling e Hegel) passou da bíblia para o mundo, passando a interpretar também a realidade cada um a sua maneira.

Concluímos com uma citação da encíclica Sapientiae Christianae, do papa Leão XIII:

"Recuar diante do inimigo, ou calar-se, quando de toda parte se ergue tanto alarido contra a verdade, é próprio do homem covarde ou de quem vacila no fundamento de sua crença. Qualquer destas coisas é vergonhosa em si; é injuriosa a Deus; é incompatível com a salvação tanto dos indivíduos como da sociedade e só é vantajosa aos inimigos da fé".
 renata massa