No Brasil, sobra letramento, mas ler e compreender textos bem é raridade. Conheça um dos graves problemas educacionais que impede nossas crianças de aprender a ler com eficácia.
Mostrando postagens com marcador escola. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador escola. Mostrar todas as postagens
18.1.19
Letramento, o VILÃO da alfabetização no Brasil
3.1.19
A leitura é a mais importante das matérias escolares
Por quê? Porque ela é necessária para dominar todas as outras. Será extremamente difícil resolver um problema de matemática se a criança não compreende bem o que está escrito. E o que dizer das questões de sociologia ou ciências, se ela não conseguir ler e compreender os livros?
Em todo o mundo, as crianças que lêem mais, lêem melhor. Isso é válido para todos os níveis sociais, vivam as crianças nos grandes centros urbanos ou na periferia. Uma pesquisa abrangendo 250.000 estudantes em 32 países demonstrou que, independentemente do nível econômico (A, B ou C), as notas dos alunos aumentavam proporcionalmente ao seu grau de envolvimento com a leitura. Os alunos do nível econômico C classificados como "leitores assíduos" levavam uma vantagem de mais de 100 pontos sobre os alunos do mesmo nível econômico classificados como "leitores esporádicos". O que fazer, então, para que as crianças leiam mais em casa?
É preciso gostar de ler. Os seres humanos são criaturas que buscam o prazer; se gostamos de algo, fazemos a mesma coisa, de novo e de novo. Vamos ao nosso restaurante favorito e pedimos a comida e a bebida de que gostamos, e não aquilo que não apreciamos. Portanto, se você quer garantir que seus filhos leiam com mais frequência, faça com que eles gostem de ler. O que fazer, então, para que isso aconteça?
Leia em voz alta para eles, desde a tenra idade. No começo, o som da sua voz será uma fonte de calma, condicionando a criança a associar você e o livro a uma sensação de segurança. Conforme seu filho for crescendo, aumente o tempo de leitura, de alguns minutos para ao menos 20 minutos diários, passando dos livros ilustrados ao livros divididos em capítulos. Ok, concordo com os benefícios da leitura em voz alta para crianças, mas eu pensava que meu filho, no segundo ano do Ensino Fundamental, deveria voltar da escola e ler para mim. Como ele pode melhorar a leitura se sou que leio para ele?
A compreensão oral antecede a compreensão escrita. É preciso ter ouvido uma palavra antes de poder dizê-la, lê-la ou escrevê-la. Se nunca tivéssemos ouvido a palavra "enorme" sendo utilizada em um contexto significativo, não a entenderíamos quando a tivéssemos de ler ou escrever. Há no cérebro das crianças uma espécie de "reservatório de palavras", e é dever os pais alimentá-lo de palavras, que então transbordam para a fala e, depois, para a leitura e a escrita. Por volta dos 4 anos de idade, crianças de famílias mais favorecidas terão ouvido, no ambiente doméstico, cerca de 45 milhões de palavras, enquanto um criança pobre terá ouvido apenas 13 milhões. É uma diferença de 32 milhões de palavras, o equivalente a 1 ano de vantagem sobre a criança menos favorecida. Com que idade se deve parar de ler em voz alta para uma criança?
Fator importante: uma criança passa 900 horas por ano na escola e 7.800 horas em casa. Quem é o professor mais importante?
Em geral, o nível de compreensão oral das crianças é superior ao seu nível de leitura. É por volta do nono ano que o nível de leitura nivela-se com o nível de compreensão oral. Isso significa que uma criança do primeiro ano pode ouvir e compreender livros destinados a crianças do terceiro ou quarto anos, os quais ela ainda não consegue ler. Os livros de capítulos geralmente lhes apresentam palavras novas, novas idéias e um mundo para além dos muros do quintal. E isso, por sua vez, irá ajudá-las a compreender melhor o que mais tarde terão de ler nos livros escolares. Mas e se a família não tiver dinheiro para comprar livros?
Pesquisas comprovam que crianças provenientes de lares abundantes em material de leitura - livros, revistas e jornais - lêem melhor e vão à biblioteca com mais frequência. As bibliotecas reúnem a maior quantidade de livros que você poderá encontrar, e os melhores livros já escritos - tudo de graça. Lembre-se: um mesmo livro pode ser encontrado novinho em folha numa livraria a R$ 50,00 e usado em um sebo a R$ 10,00. Famílias leitoras mantêm livros e revistas no banheiro, na cabeceira da cama e na mesa da cozinha para preencher aqueles momentos em que não há nada para fazer. Coloque um abajur próximo à cama da criança e conceda-lhe o privilégio de ficar acordada mais 15 minutos para ler (ou olhar as ilustrações de um livro) antes de dormir. Este poderá ser o curso noturno mais importante de toda sua vida.
Os áudio-livros também contam! Embora uma voz gravada não seja tão boa quanto um adulto de carne e osso realizando a leitura, parando para explicar alguma coisa da história, é melhor do que nada. É também um expediente valioso para aqueles pais com alguma deficiência na leitura, ou que têm o português como segunda língua.
Publicado originalmente aqui.
25.2.17
Motivando os alunos para o estudo
Motivar o aluno para a aprendizagem, despertar a vontade de aprender, incentivar o interesse nos estudos... Quem nunca ouviu ou usou esses termos, consumindo-se em preocupação na busca pelos métodos ou estratégias que finalmente farão com que nossas crianças e adolescentes descubram a maravilha que é estudar e aprender?
Dar aulas é algo que faz parte da minha vida há 20 anos e apenas nos últimos dois anos é que "despertar o interesse dos alunos" e outras ideias similares deixaram de ser uma preocupação minha. E se você pensa que eu deixei de me preocupar porque descobri, finalmente, a estratégia perfeita para resolver o problema, lamento te decepcionar. A verdade é que eu entendi que, no que diz respeito aos estudos, essa é uma ideia que não apenas não faz sentido, como atrapalha o que entendemos por educação. Vou explicar.
Sempre gostei de começar as aulas com algo que chamasse a atenção dos alunos para o assunto. É a famosa captação. Ela é parte da rotina de quem faz questão de manter a audiência interessada no que vai dizer - e eu investia pesado nisso. Já me caracterizei de personagens divertidos, já fiz gincanas e competições, já usei imagens, vídeos, histórias, objetos, músicas e nem sei quantas atividades diferentes para ter certeza que os alunos jamais esqueceriam daquela aula - afinal, como eu aprendi na faculdade e nos comerciais de televisão, "é brincando que se aprende".
Pois bem. Acontece que com o passar do tempo comecei a perceber um fenômeno interessantíssimo: o momento da captação era sempre um sucesso; a hora de estudar, um desastre.
Os alunos riam e se divertiam com as atividades que eu preparava. Uma maravilha! O problema é que na hora que começava a parte deles no negócio - ler, reler, interpretar, escrever e pensar - ninguém queria saber de mais nada. Bom, "ninguém" é exagero; sempre temos alunos que fazem o que precisa ser feito. A maioria, no entanto, começava com as mesmas reclamações de sempre e qualquer tarefa era praticamente um parto!
Na mesma época comecei a trabalhar fora da sala de aula com alunos que tinham dificuldades nos estudos e foi quando fiz uma das grandes descobertas da minha vida pedagógica: NÃO é brincando que se aprende!
Antes que alguém queira me levar presa por apostasia e infração gravíssima às leis pedagógicas modernas, quero deixar claro que não estou dizendo que os alunos não podem aprender enquanto brincam, nem elogiando as aulas maçantes. Por favor, acompanhem o raciocínio.
A questão é que sempre que insistimos na ideia de que o aluno precisa aprender brincando, produzimos dois efeitos terríveis para a verdadeira educação:
- Passamos para o aluno a ideia de que estudar e aprender são atividades divertidas. E isso é um tremendo, tremendo engano! Porque a verdade é que o aprendizado é consequência do estudo e estudar dá muito, muito trabalho!
- Passamos para o professor a ideia de que ele é o maior responsável pela motivação do aluno para o estudo - o que também não é verdade. Um professor pode ser lindo, maravilhoso, encantador e deslumbrante e ainda assim ter alunos em sua turma que não possuem qualquer motivação para os estudos.
"Ah, mas quanto absurdo você está dizendo! Eu conheço alguém que começou a gostar de Matemática só porque o professor o incentivou. E também tem aquele que...". Bom, eu também conheço muitas pessoas nesse estilo. Eu mesma fui incentivada por excelentes professores que tive e já ouvi de diversos alunos o quanto minhas aulas os incentivaram a gostar de ler ou outras coisas assim. Mas, e aqueles por quem eu gastei metade dos meus neurônios e nunca consegui encontrar um jeito de motivar? E todos aqueles que estudaram comigo, tiveram os mesmíssimos professores que eu e ainda assim não queriam nada com a vida?
O que eu quero dizer é que existem questões morais que antecedem às questões didático-pedagógicas.
Uma virtude básica importantíssima para que alguém tenha um bom desempenho - seja na escola, seja na vida - é a fortaleza. Essa virtude, que se tornou uma palavra praticamente desconhecida no nosso mundo moldado pelo politicamente correto, cuja única função parece ser criar pessoas fracas, diz respeito a capacidade que um ser humano tem de enfrentar as dificuldades para propósitos nobres e bons. Agora veja: você não enfrenta nada enquanto assiste algo acontecer. "Enfrentar" é um verbo que implica movimento; uma ação com envolvimento intenso e que lembra luta, batalha, suor, cansaço e, muitas vezes, até lágrimas e sangue.
Mas, afinal, que relação essa virtude pode ter com ensinar a estudar? Por que falar sobre caráter quando o assunto é desempenho acadêmico? Pelo que eu já disse: estudar é difícil. Mesmo! Pergunte a qualquer pessoa que estuda de verdade. Eu já ouvi muitas vezes pessoas me dizendo: "Pra você é fácil porque você gosta de estudar." Não é não, gente! Ler textos difíceis cansa, pesquisar é complicado e escrever pode ser um exercício tão trabalhoso que às vezes dá vontade de chorar (sem exagero). Eu gosto, sim. Mas gosto porque o resultado desse trabalho - como de todos os bons trabalhos - me traz muita alegria. Pela graça de Deus meus pais me ensinaram a encontrar prazer em aprender e descobrir coisas. A questão é que até chegar lá onde a alegria mora existe um caminho a ser percorrido - e o resultado precisa valer a pena.
Agora veja a situação terrível em que estão nossas crianças: elas estão sendo ensinadas por professores que na maior parte do tempo culpam a si mesmos (e são apontados como culpados pela sociedade inteira) por não estar conseguindo motivar os alunos a aprender. "Precisa pôr mais tecnologia na sala de aula! Precisa dar aulas melhores para conter a evasão escolar! Precisa isso, precisa aquilo!". Muitas vezes os próprios pais assumem para si alguma culpa pelo fato de que a criança não estuda (e, consequentemente, não aprende). E enquanto isso, elas são ensinadas pela nossa sociedade que são vítimas de um sistema educacional ruim, uma escola ruim, uma vida ruim, e etc. No mesmo momento em que, o computador, a televisão e o videogame oferecem todo tipo de opções onde tudo é rápido, tudo é superficial, tudo é agitado e tão fácil que até ler um texto como esse, com um pouco mais de mil e quinhentas palavras, já é considerado um exercício impossível para a maioria de nós ("Isso não é um texto; é um livro!").
Agora me digam: como é que alunos moldados por esse sistema vão descobrir que, na verdade, aprender é algo que depende do trabalho deles? Como vão entender que, quando uma leitura está difícil, eles precisam ser fortes e perseverar no trabalho até conseguir vencê-lo e finalmente compreender o texto? Como vão aprender que prestar atenção em uma aula requer disciplina e autocontrole - que são uma verdadeira batalha contra nossa vontade de distrair o pensamento e voltar a atenção para outras coisas mais interessantes? Como vão aprender que o estudo é um exercício e que não podemos desistir no primeiro erro - nem no segundo, nem no terceiro, nem no que for necessário para que se encontre a resposta certa?
Quando estava no Ensino Médio eu tinha um professor de Biologia que mais faltava do que ia dar aula. Era escola pública, então não tinha muito o que fazer a respeito. Entrava um substituto que mandava a gente copiar qualquer coisa para passar o tempo. Eu ficava brava com aquilo e um dia reclamei para minha mãe, que assim não tinha como aprender. Ela me disse o que dizia sempre: "Quem faz a escola é o aluno. Pega o seu livro de Biologia e vai estudar". Meus pais nunca me deram a opção de me colocar como vítima do sistema; eles me fizeram ver que estudar era um trabalho meu e que eles esperavam que eu o fizesse.
Meu tempo com os alunos (tanto aqueles que têm um excelente desempenho nos estudos como aqueles com dificuldades para aprender) me tem feito pensar muito sobre tudo isso. E quanto mais estudo e pesquiso, mais acredito que o problema da nossa educação não é prioritariamente financeiro, nem pedagógico, nem mesmo estrutural; o problema da educação é, antes de tudo, moral. Se queremos que nossos alunos alcancem bom desempenho acadêmico, precisamos compreender a necessidade da educação do caráter e ensiná-los que aprender é consequência de um trabalho chamado "estudo". E que estudar dá, sim, muito trabalho.
Na educação por princípios nós usamos os princípios do autogoverno e do caráter cristão para ensinar às crianças que as dificuldades fazem parte da nossa vida e por meio delas nosso caráter é moldado por Deus, sendo necessário, para isso, aprender a governar a si mesmo de forma que suas decisões sejam tomadas com base em suas convicções, e não na sua vontade ou falta dela.
Antes, quando as crianças reclamavam que uma lição estava chata, eu me sentia culpada e pensava o que precisava fazer para motivá-los e deixar tudo mais divertido. Depois, minha resposta passou a ser: "Está chata porque é um exercício e dá trabalho. Seja forte e não desista até ter conseguido terminar. Imaginem que essa lição é uma pedra que apareceu no seu caminho. Se você se esforçar até conseguir ultrapassá-la, se tornará mais forte e vai lidar com as próximas pedras com maior facilidade; se desistir e sentar à beira do caminho, não só não se tornará mais forte, como também não chegará a lugar nenhum. Vamos, eu sei que vocês conseguem vencer essa!". Parece bobeira, mas com o tempo eles começaram a internalizar a ideia de que, assim como os heróis das boas histórias, que enfrentavam dragões e precisavam lutar com todas as forças, eles também têm suas pequenas batalhas e seus gigantes a derrotar. Essa é, aliás, mais uma razão para investir na formação literária das crianças e adolescentes. Coragem, perseverança, determinação - é isso que precisamos enfatizar! Porque a motivação precisa vir de dentro de um coração forte e pronto a vencer os desafios, custe o que custar.
Por Katarine Jordão
10.1.17
Educação clássica e homeschooling
Rafael Falcón fala da educação clássica como sendo a educação ideal e que a escola moderna não pode oferecer uma educação clássica.
26.5.16
Por que a escola moderna não pode oferecer uma educação clássica
A verdadeira educação clássica tem requisitos que as escolas modernas são incapazes de satisfazer. Só o homeschooling pode atender às exigências espirituais da tradição antiga, medieval e renascentista.
Não falo, evidentemente, do que vem sendo chamado de "educação clássica" ou "educação liberal" pelos norte-americanos - a primeira expressão se refere a uma teoria pedagógica de Dorothy Sayers, e a segunda, aos projetos inspirados por Mortimer Adler. Ambas as doutrinas possuem importância própria, especialmente como tentativas de recuperar alguma sanidade na pedagogia moderna, mas não refletem nem de longe o que era feito no verdadeiro sistema das artes liberais. As diferenças são numerosas demais para que eu as cubra neste artigo; um princípio, porém, que talvez explique muitas delas é justamente o fator que lhes permite a aplicação nas escolas modernas, separando-as portanto da pedagogia antiga. Chamarei esse princípio de "estrutura maquinal".
A "estrutura maquinal" se manifesta na obsessão por currículos, cronogramas, metas, manuais com exercícios pré-prontos, etc. O prestígio do professor é transferido para livros, computadores ou - o que é muito pior - instituições de ensino, que nada mais fazem do que conglomerar professores sob o comando de burocratas. As tentativas modernas de recuperar a "educação clássica", sofrem, justamente, de preconceitos derivados dessa estrutura maquinal, os quais geralmente são considerados "avanços" que não devem ser "perdidos".
Em termos claros: educação, no espírito clássico, é a relação entre um ser humano adulto e um jovem, em que o adulto examina cuidadosamente todos os meios convenientes pelos quais o jovem pode ser levado à perfeição do seu ser individual. Assim sendo, o papel do sistema teórico, dos livros, e mais ainda o das instituições envolvidas, é o de facilitar o trabalho do mentor; e no momento mesmo em que esses instrumentos começam a substituir o juízo humano, desejando impor determinados meios numa ordem fixa, sabemos que nosso espírito se tornou incompatível com a tradição clássica. Nenhum currículo, nenhuma imitação de aspectos superficiais da tradição pode fazer grande diferença nessas condições.
Mais ainda: o princípio da educação clássica é o amor, espécie de paternidade espiritual, entre dois seres humanos, um velho, o outro jovem; mas só se ama o que se conhece, e a estrutura escolar moderna é montada para que os professores e alunos não possam conhecer-se, muito menos amar-se uns aos outros. A tendência inexorável é a de burocratizar as instituições educacionais, transformando professores em "funcionários" e alunos em "beneficiários" - isto é, reduzindo-os a papéis abstratos que prescindem da manifestação de suas personalidades integrais, e chegam mesmo a proibi-la.
Ora, se as escolas (e universidades) se tornaram ambientes necessariamente anti-educativos, o único lugar em que resta a possibilidade do diálogo amoroso entre professor e aluno é a sua própria casa - já que, ao menos por enquanto, não tentam regular o que se faz nela. Isso pressupõe, naturalmente, a presença de instrutores particulares e especializados, quando o assunto o exigir: mas os diretores da educação, aqueles que decidem a quem e quando entregar as crianças, serão aqueles que as conhecem como ninguém, e que possuem mais condições de amá-las do que qualquer pretensioso diplomado. Assim é que os aspectos técnicos e instrumentais, inclusive os professores, se submetem novamente à finalidade real da educação.
O ensino domiciliar é o único, portanto, que oferece, neste momento, alguma chance de produzir seres humanos completos, livres e intelectualmente desenvolvidos. Toda intromissão da instituição escolar, seja ela política, ideológica ou pedagógica, será um mal a ser evitado. Que o ambiente doméstico se pareça o mínimo possível às escolas modernas, e que seja dotado de uma intensa busca pela perfeição intelectual e existencial, são as exigências para que o homeschooling cumpra o papel intransferível de formar a futura inteligência do Ocidente. Só ele nos dá esperança de que, inspirados pelo seu sucesso, os homens do futuro decidam remover as amarras burocráticas das escolas, tornando-as novamente centros de educação.
Por Rafael Falcón
18.1.16
Como o ensino público debilita nossas crianças e por quê
Durante os trinta anos em que ensinei em algumas das piores, e em algumas das melhores, escolas de Manhattan, tornei-me um especialista em tédio. O tédio estava em todos os lugares do meu mundo, e se você perguntasse às crianças, como eu fazia frequentemente, por que elas sentiam-se tão entediadas, as respostas eram sempre as mesmas: elas diziam que o dever era estúpido, que aquilo não fazia sentido, que elas já sabiam aquilo. Diziam que gostariam de estar fazendo algo de verdade, não apenas ficar sentadas aqui e ali. Elas diziam que os professores pareciam não saber muito sobre as suas temáticas e obviamente não estavam interessados em aprender mais. E as crianças estavam certas: os professores estavam tão entediados quanto elas.
O tédio é o estado comum dos professores de escola, e qualquer um que tenha passado algum tempo em uma sala de professores pode atestar a falta de energia, as reclamações e o desânimo encontrados ali. Quanto questionados sobre o porquê de sentirem-se entediados, os professores tendem a culparem as crianças, como você já deve imaginar. Quem não se sentiria entediado ensinando alunos grosseiros e interessados somente nas notas? Isso na melhor das hipóteses. Claro, os próprios professores são produtos dos mesmos programas de escolarização compulsória de doze anos que tanto aborrecem os estudantes, e, como membros da escola, eles estão presos a estruturas ainda mais rígidas do que aquelas impostas sobre as crianças. Então, de quem é a culpa?
Todos somos culpados. Meu avô ensinou-me isso. Em uma tarde, quando eu tinha sete anos, queixei-me de tédio para ele, e ele deu-me uma pancada na cabeça. Disse-me que jamais repetisse aquela expressão em sua presença, e que, se eu estava entediado, aquilo era culpa minha e demais ninguém. O dever de animar-me e instruir-me era inteiramente meu, e as pessoas que não soubessem disso eram infantis e, se possível, deveriam ser evitadas. Certamente não eram confiáveis. Aquele episódio curou-me do tédio para sempre; e aqui e ali, ao longo dos anos, eu fui capaz de transmitir a lição a alguns estudantes notáveis. No entanto, na maioria das vezes, achei inútil tentar desafiar a noção oficial de que o tédio e a infantilidade eram o estado natural das coisas na sala de aula. Muitas vezes precisei desafiar os costumes e até mesmo driblar a lei para ajudar as crianças a se libertarem dessa armadilha.
O império contra-atacou, é claro; adultos infantis geralmente confundem oposição com deslealdade. Certa vez, ao voltar de uma licença médica, descobri que todas as provas que garantiam minha licença haviam sido intencionalmente destruídas, que meu contrato havia sido rescindido, e que eu não mantinha mais nem mesmo minha licença como professor. Após nove meses de tormentas, eu finalmente consegui recuperar minha licença, quando a secretária da escola admitiu testemunhar o desenrolar dos fatos. Durante este período, minha família sofreu mais do que eu gostaria de lembrar. Quando, em 1991, finalmente me aposentei, eu tinha razões mais que suficientes para pensar em nossas escolas - com seu confinamento forçado de alunos e professores por longos períodos em salas, num regime quase carcerário - como fábricas virtuais de infantilidade. No entanto, eu não conseguia ver por que tinham que ser daquela maneira. Minha própria experiência me havia revelado o que muitos outros professores precisam também aprender ao longo do caminho, ainda que guardem para si mesmos por medo de represálias: se quiséssemos, poderíamos, de maneira fácil e barata, eliminar as velhas e estúpidas estruturas, e ajudar as crianças a adquirirem uma educação em lugar de simplesmente receberem uma escolarização. Encorajaríamos as melhores qualidades da juventude - curiosidade, espírito aventureiro, resiliência, a capacidade de ter insights surpreendentes - simplesmente sendo mais flexíveis em termos de tempo, textos e provas, estimulando as crianças a tornarem-se adultos competentes, dando a cada aluno a autonomia que ele ou ela precise para assumir um risco de vez em quando.
Mas não fazemos isso. E quanto mais eu perguntava por que não, e insistia em pensar sobre o "problema" da escolarização como um engenheiro o faria, mais eu me enganava: e se não há um "problema" com nossas escolas? E se elas são do jeito que são, tão distantes do senso comum e da longa experiência sobre como as crianças aprendem as coisas, não porque estejam fazendo algo errado, mas porque estão fazendo algo certo? É possível que George W. Bush tenha acidentalmente falado a verdade quando disse que "não vamos deixar nenhuma criança para trás"? Será que nossas escolas são feitas para garantir que nenhuma delas venha a crescer de fato?
Nós realmente precisamos de escola? Não refiro-me à educação, mas a escolarização forçada: seis períodos por dia, cinco dias por semana, nove meses por ano, por doze anos. Esta rotina mortal é realmente necessária? Se sim, para quê? Não nos escondamos atrás da leitura, escrita e matemática como motivos, pois dois milhões de homeschoolers felizes certamente descartaram essa justificativa banal. Mesmo que não o tivessem feito, um número considerável de norte-americanos famosos nunca passou pelos sufocantes doze anos pelos quais nossas crianças atualmente têm de passar, e eles saíram-se bem. George Washington, Benjamin Franklin, Thomas Jefferson, Abrahan Lincoln? Alguém os ensinou, com certeza, mas eles não foram produtos de um sistema escolar e nenhum deles jamais "graduou-se" em uma escola secundária. Durante a maior parte da história americana, as crianças geralmente não passaram pelo ensino médio, mas os desescolarizados se tornaram almirantes como Farragut; inventores como Edison; capitães da indústria, como Carnegie e Rockefeller; escritores, como Melville, Twain e Conrad; e mesmo acadêmicos, como Margaret Mead. Na verdade, até bastante recentemente, pessoas que atingiam a idade dos treze anos não eram de maneira alguma vistas como crianças. Ariel Durant, co-autora de uma enorme série de livros muito boa sobre história mundial junto com seu marido Will, casou-se aos quinze anos; e quem poderia declarar que Ariel Durant era uma pessoa ignorante? Sem escolaridade, talvez; mas, não ignorante.
Nós temos sido ensinados (isto é, escolarizados) em nosso país a pensar em "sucesso" como sinônimo de, ou, no mínimo, dependente de "escolarização", mas historicamente vê-se que isso não é verdade, nem em termos intelectuais, nem em termos financeiros. E hoje em dia, muitas pessoas por todo o mundo encontram formas de educarem-se a si mesmas sem recorrer a um sistema de escolas secundárias compulsórias que frequentemente lembram prisões. Por que, então, os americanos confundem educação com tal sistema? Qual é exatamente a finalidade das nossas escolas públicas?
A escolarização em massa de natureza compulsória envolveu-se com os Estados Unidos da América entre 1905 e 1915, embora tenha sido concebida muito antes, e reivindicada pela maior parte do século XX. As razões para esta enorme agitação da vida familiar e das tradições culturais foram, a grosso modo, três:
- Criar boas pessoas;
- Criar bons cidadãos;
- Fazer de cada pessoa a melhor versão de si mesma.
Tais metas são ainda hoje defendidas frequentemente, e a maioria de nós aceita-as de uma ou outra forma como uma definição aceitável da missão da educação pública; mesmo sendo poucas, as escolas falham em alcançá-las. Mas, estamos totalmente errados. Compondo o nosso erro está o fato de que a literatura nacional tem declarações numerosas e surpreendentemente consistentes acerca do verdadeiro propósito da escolarização obrigatória. Temos, por exemplo, o grande H. L. Mencken, que escreveu em The American Mercury, em abril de 1924, que o objetivo da educação pública não é "encher os mais jovens da espécie com conhecimentos e despertar-lhes a inteligência... Nada poderia estar mais distante da verdade. O objetivo é simplesmente reduzir o maior número possível de indivíduos ao mesmo nível seguro, reproduzir e treinar uma cidadania padronizada, e acabar com a dissidência e com a originalidade. Este é o seu objetivo nos Estados Unidos... E este é seu objetivo em qualquer outro lugar."
Em função da reputação de Mencken como um satírico, podemos ser tentados a descartar essa passagem como sendo um sarcasmo hiperbólico. Seu artigo, no entanto, segue traçando o modelo de nossos próprio sistema educacional, voltando ao já desaparecido - mas jamais a ser esquecido - estado militar da Prússia. E embora ele certamente estivesse ciente da ironia de que havíamos recentemente estado em guerra contra a Alemanha, Mencken, o herdeiro do pensamento e da cultura prussianos, estava sendo perfeitamente sério aqui. Nosso sistema educacional é realmente prussiano, e isto é, de fato, motivo para preocupação.
Uma vez saibamos procurar, o estranho fato de uma origem prussiana para nossas escolas aparece repetidamente. William James referiu-se a isso muitas vezes na virada do século. Orestes Brownson, o herói do livro "O verdadeiro e único céu", de 1991, de Christopher Lasch, denunciou publicamente a prussianização das escolas norte-americanas na década de 1840. Em 1843, o "Sétimo relatório anual" de Horace Mann para o Conselho Estadual de Educação de Massachusetts é essencialmente um hino à terra de Frederico, o Grande, e um chamado para que o seu modelo de escolarização fosse trazido para cá. Que a cultura prussiana tenha expandido-se vastamente na América não é fato surpreendente, dada nossa antiga associação com esse Estado utópico. Um prussiano serviu como assistente do presidente Washington durante a Guerra da Revolução, e tantos alemães estabeleceram-se aqui em 1795, que o Congresso cogitou publicar uma edição em língua alemã das leis federais. Mas, o que choca é que nós adotamos tão avidamente um dos piores aspectos da cultura prussiana: um sistema educacional elaborado deliberadamente para produzir intelectos medíocres, para tolher a vida interior, para negar aos alunos apreciáveis habilidades de liderança, e para assegurar a formação de cidadãos dóceis e incompletos - tudo com o intuito de formar uma população "administrável".
Foi a partir de James Bryant Conant - presidente de Harvard por vinte anos, especialista em gás letal na I Guerra Mundial, executivo no projeto da bomba atômica na II Guerra Mundial, alto comissário da zona americana na Alemanha depois da II Guerra Mundial, e verdadeiramente um dos personagens mais influentes do século XX - que eu percebi pela primeira vez os reais propósitos da escolarização norte-americana. Sem Conant, nós provavelmente não teríamos o mesmo estilo e graus de testes padronizados que desfrutamos hoje em dia, nem seríamos abençoados com gigantescas escolas que armazenam 2000 a 4000 alunos por período, como a famosa Columbine, em Littleton, Colorado. Logo depois de me aposentar como professor, peguei o ensaio "A criança, os pais e o estado", de 1959, de autoria de Conant, que mais parecia um livro, e fiquei mais do que intrigado em vê-lo mencionar rapidamente o fato de que as escolas modernas que frequentamos foram o resultado de uma "revolução" planejada entre os anos de 1905 e 1930. Revolução? Ele abre mão de explicar, mas conduz o curioso e o desinformado ao livro de Alexander Inglis, de 1918, Princípios da educação secundária, no qual "viu-se tal revolução dos olhos de um revolucionário".
Inglis, que empresta seu nome a uma palestra sobre educação em Harvard, deixa perfeitamente claro que a escolarização compulsória no continente americano foi planejada para ser exatamente o que havia sido na Prússia de 1820: a quinta coluna no movimento democrático burguês que começava dar aos camponeses e proletários uma voz na mesa de negociações. A escolarização moderna, industrializada e compulsória pretendia um tipo de incisão cirúrgica na unidade potencial dessas subclasses. Separe as crianças por assunto, por faixa etária, por constantes avaliações e por muitas outras maneiras mais sutis, e tornar-se-ia improvável que a massa ignorante da humanidade, separada na infância, jamais se reintegrasse em um todo perigoso.
Inglis divide o propósito - o propósito verdadeiro - da escolarização moderna em seis funções básicas; qualquer uma das quais é suficiente para arrepiar os cabelos daqueles que são inocentes o bastante para acreditar naquelas três metas citadas anteriormente:
1. Função de ajustamento ou adaptação: As escolas devem estabelecer hábitos fixos em reação à autoridade. Isto, obviamente, bloqueia o julgamento crítico por completo. Além disso, praticamente destrói a idéia de que coisas úteis ou interessantes devam ser ensinadas, porque você não pode testar a obediência reflexiva até saber se as crianças conseguem aprender e fazer coisas tolas e cansativas.
2. Função de integração: Também pode muito bem ser chamada de "função de conformação", pois sua intenção é tornar as crianças tão parecidas quanto possível. Pessoas conformadas são previsíveis, e isso é muito útil para aqueles que desejem explorar e manipular uma grande massa trabalhadora.
3. Função de diagnóstico e direção: A escola destina-se a determinar o papel social de cada estudante. Isto se faz documentando evidência matemática e anedótica em registros cumulativos. Como em "seu registro permanente". Sim, você tem um.
4. Função de diferenciação: Uma vez que seus papéis sociais tenham sido "diagnosticados", as crianças devem ser ordenadas de acordo com tais papéis, e treinadas somente até onde seu destino dentro da máquina social merecer - e nenhum passo a mais. Esqueça fazer de cada criança a melhor versão de si mesma.
5. Função seletiva: Isso não se refere de maneira alguma à escolha humana, mas à teoria de seleção natural de Darwin sendo aplicada ao que ele chama de "as raças favorecidas". Resumindo, a idéia é ajudar, tentando, conscientemente, melhorar o estoque de procriação. As escolas são feitas para rotular os que "não se encaixam" - com notas baixas, aplicação de correções, e outras punições - tão claramente que seus colegas os aceitam como inferiores e efetivamente os afastam dos sorteios reprodutivos. É isso que todas aquelas humilhações que seguem-se desde o primeiro ano têm o intuito de fazer: livrar-se da sujeira.
6. Função propedêutica: O sistema social implícito nessas regras exigirá um grupo de elite de cuidadores. Com este fim, uma pequena fração das crianças será silenciosamente ensinada a como administrar este projeto contínuo, como observar atentamente e controlar uma população deliberadamente emburrecida e sem ter como reagir, para que o governo possa seguir sem ser desafiado, e as corporações jamais venham a ter necessidade de trabalho obediente.
Este, infelizmente, é o propósito da educação pública obrigatória neste país. E para que você não tome Inglis como um excêntrico isolado com uma visão muito cínica com relação ao empreendimento educacional, você precisa saber que ele nunca esteve sozinho na defesa destas idéias. O próprio Conant, desenvolvendo em cima das idéias de Horace Mann e outros, fez campanhas incansáveis por um sistema escolar americano elaborado seguindo as mesmas linhas. Homens como George Peabody, que fundou a causa da escolaridade obrigatória por todo o sul, certamente entenderam que o sistema prussiano era útil em criar não somente um eleitorado inofensivo e uma força de trabalho servil, mas também uma manada virtual de consumidores acéfalos. Com o tempo, um grande número de titãs industriais chegou a reconhecer os enormes benefícios em cultivar e cuidar de tal manada através da educação pública; entre eles, Andrew Carnegie e John Rockefeller.
Aí está. Agora você sabe. Não precisamos das concepções de Karl Marx sobre uma grande guerra entre as classe para ver que é de interesse da complexa gestão, econômica ou política, emburrecer as pessoas para desmoralizá-las, dividí-las, separando-as umas das outras, e descartá-las caso não se conformem. A classe pode enquadrar a proposição, como quando Woodrow Wilson, o presidente da Universidade de Princeton, disse o seguinte à Associação de Professores Escolares da cidade de Nova Iorque em 1909: "Nós queremos que uma classe de pessoas tenha educação liberal, e queremos que uma outra classe de pessoas, uma classe muito maior, de necessidade, em cada sociedade, renuncie aos privilégios da educação liberal e dedique-se a executar tarefas manuais específicas e difíceis." Mas, os motivos por trás das repugnantes decisões que provocam estes fins não precisam, de forma alguma, ser baseados em classes. Eles podem resultar puramente do medo, ou da crença hoje já conhecida, de que "eficiência" é a virtude fundamental, ao invés de ser o amor, a liberdade, o riso ou a esperança. Acima de tudo, podem surgir da pura ganância.
Havia muita fortuna a ser feita, afinal, com uma economia baseada em produção de massa, e organizada para favorecer a grande corporação, mais do que aos pequenos negócios ou fazendas familiares. Mas, produção em massa demandava consumo em massa; e, na virada do século XX, a maioria dos americanos considerava pouco natural e pouco sábio comprar coisas das quais não se precisava de verdade. A escolaridade obrigatória foi uma benção, neste sentido. As escolas não tinham que treinar as crianças num sentido direto para pensarem que deveriam consumir sem parar, pois ela fazia algo ainda melhor: ela encoraja-os a nem sequer pensar. E isso tornou-os alvos fáceis para ainda outra grande invenção da era moderna - o marketing.
Você não precisa ter estudado marketing para saber que há dois grupos de pessoas que sempre podem ser convencidos a consumir mais do que precisam: viciados e crianças. A escola fez um excelente trabalho ao transformar nossas crianças em viciados, mas fez um trabalho espetacular ao transformá-las em crianças. Mais uma vez, isso não foi um acidente. Teóricos desde Platão e Rousseau até o nosso Dr. Inglis sabiam que se as crianças pudessem ser enclausuradas com outras crianças, livres da responsabilidade e independência, motivadas a desenvolver somente as emoções triviais como a ganância, a inveja, o ciúme e o medo, elas cresceriam sim, mas sem verdadeiramente amadurecer. Na edição de 1934 do seu já famoso livro Educação Pública nos Estados Unidos, Ellwood P. Cubberley detalhou e enalteceu a estratégia de ampliações escolares sucessivas, que estendia a infância por mais dois a seis anos; e o ensino obrigatório era, até então, uma novidade. Este mesmo Cubberley - que era reitor da Escola de Educação de Stanford, editor de livros-texto na Hughton Mifflin, amigo de Connat e correspondente em Harvard - escreveu o seguinte, na edição de 1922 do seu livro Administração da Escola Pública: "Nossas escolas são fábricas nas quais os produtos brutos (as crianças) devem ser moldados e formados. E é de responsabilidade da escola construir alunos de acordo com as especificações determinadas".
É perfeitamente claro para a nossa sociedade hoje o que eram aquelas especificações. A maturidade agora está banida de quase todos os aspectos das nossas vidas. Leis fáceis de divórcio acabaram com a necessidade de batalhar-se por um relacionamento; o crédito fácil removeu a necessidade de auto-controle fiscal; o entretenimento fácil tirou a necessidade de aprender a entreter-se a si mesmo; as respostas simples removeram a necessidade de fazerem-se perguntas. Tornamo-nos uma nação de crianças, felizes em entregar nossos juízos e nossas vontades a exortações políticas e lisonjas comerciais que insultariam qualquer adulto de verdade. Nós compramos televisores, para, em seguida, comprar o que vemos neles. Compramos computadores, e depois compramos as coisas que vemos neles. Compramos tênis de $150 quer precisemos ou não, e quando eles se acabam, nós prontamente compramos um outro par. Dirigimos SUVs, e acreditamos na mentira de que eles continuem algum tipo de segurança para nossa vida, até mesmo quando estamos de cabeça para baixo dentro deles. E o pior de tudo, nós nem piscamos os olhos quando Ari Fleischer nos diz "tomem cuidado com o que dizem," mesmo se lembrarmos de termos ouvido em algum momento lá trás, na escola, que a América é da terra da liberdade. Simplesmente também caímos nesta. Nossa escolaridade, como planejado, cumpriu com isso.
Agora, as boas notícias. Uma vez que você entendeu a lógica da escolaridade moderna, suas armadilhas e truques são fáceis de evitar. A escola treina as crianças para serem empregadas e consumidoras; ensine seus filhos a serem líderes e aventureiros. A escola treina as crianças a serem obedientes por reflexo; ensine seus filhos a terem um pensamento crítico e independente. Crianças bem escolarizadas tem uma baixa tolerância para o tédio, ajude seus filhos a desenvolverem uma vida interior, de forma que nunca se entediem. Incentive-os a encararem o conteúdo sério, o conteúdo adulto, em história, literatura, música, artes, economia, teologia - todas as coisas que os professores escolares sabem muito bem como evitar. Desafie seus filhos a lidarem com a solidão para que aprendam a desfrutar da companhia de si mesmos e a conduzir diálogos interiores. Pessoas bem escolarizadas são condicionadas a detestarem estarem o "estar só", e buscam companhia constante através da televisão, computador, celular, e em amizades superficiais rapidamente conquistadas e rapidamente abandonadas. Seus filhos devem ter uma vida mais significativa, e eles podem.
Primeiramente, no entanto, devemos despertar para perceber o que nossas escolas realmente são: laboratórios experimentais de mentes jovens, centros de treinamento para os hábitos e atitudes que a sociedade corporativa exige. O ensino obrigatório atinge as crianças apenas acidentalmente; seu propósito real é o de torná-las serviçais. Não deixe que seus filhos tenham suas infâncias prolongadas, nem mesmo por um dia. Se David Farragut pôde assumir o comando de um navio de guerra inglês capturado quando ainda era pré-adolescente, se Thomas Edison pôde publicar um folhetim aos doze anos, se Benjamin Franklin pôde instruir-se no uso de uma impressora com a mesma idade (e então colocar-se em um curso de estudos que sufocaria qualquer sênior de Yale hoje), não há dúvidas de que seus filhos podem fazer. Depois de uma longa vida e trinta anos nas trincheiras das escolas públicas, concluí que o gênio é tão comum quanto o pó. Nós limitamos nossos gênios só porque ainda não descobrimos como administrar uma população de homens e mulheres escolarizados. A solução, eu acho, é simples e gloriosa. Deixemos que eles administrem-se a si mesmos.
Por John Taylor Gatto com tradução de Camila Abadie e Helena Yoshima
Assinar:
Postagens (Atom)