Motivar o aluno para a aprendizagem, despertar a vontade de aprender, incentivar o interesse nos estudos... Quem nunca ouviu ou usou esses termos, consumindo-se em preocupação na busca pelos métodos ou estratégias que finalmente farão com que nossas crianças e adolescentes descubram a maravilha que é estudar e aprender?
Dar aulas é algo que faz parte da minha vida há 20 anos e apenas nos últimos dois anos é que "despertar o interesse dos alunos" e outras ideias similares deixaram de ser uma preocupação minha. E se você pensa que eu deixei de me preocupar porque descobri, finalmente, a estratégia perfeita para resolver o problema, lamento te decepcionar. A verdade é que eu entendi que, no que diz respeito aos estudos, essa é uma ideia que não apenas não faz sentido, como atrapalha o que entendemos por educação. Vou explicar.
Sempre gostei de começar as aulas com algo que chamasse a atenção dos alunos para o assunto. É a famosa captação. Ela é parte da rotina de quem faz questão de manter a audiência interessada no que vai dizer - e eu investia pesado nisso. Já me caracterizei de personagens divertidos, já fiz gincanas e competições, já usei imagens, vídeos, histórias, objetos, músicas e nem sei quantas atividades diferentes para ter certeza que os alunos jamais esqueceriam daquela aula - afinal, como eu aprendi na faculdade e nos comerciais de televisão, "é brincando que se aprende".
Pois bem. Acontece que com o passar do tempo comecei a perceber um fenômeno interessantíssimo: o momento da captação era sempre um sucesso; a hora de estudar, um desastre.
Os alunos riam e se divertiam com as atividades que eu preparava. Uma maravilha! O problema é que na hora que começava a parte deles no negócio - ler, reler, interpretar, escrever e pensar - ninguém queria saber de mais nada. Bom, "ninguém" é exagero; sempre temos alunos que fazem o que precisa ser feito. A maioria, no entanto, começava com as mesmas reclamações de sempre e qualquer tarefa era praticamente um parto!
Na mesma época comecei a trabalhar fora da sala de aula com alunos que tinham dificuldades nos estudos e foi quando fiz uma das grandes descobertas da minha vida pedagógica: NÃO é brincando que se aprende!
Antes que alguém queira me levar presa por apostasia e infração gravíssima às leis pedagógicas modernas, quero deixar claro que não estou dizendo que os alunos não podem aprender enquanto brincam, nem elogiando as aulas maçantes. Por favor, acompanhem o raciocínio.
A questão é que sempre que insistimos na ideia de que o aluno precisa aprender brincando, produzimos dois efeitos terríveis para a verdadeira educação:
- Passamos para o aluno a ideia de que estudar e aprender são atividades divertidas. E isso é um tremendo, tremendo engano! Porque a verdade é que o aprendizado é consequência do estudo e estudar dá muito, muito trabalho!
- Passamos para o professor a ideia de que ele é o maior responsável pela motivação do aluno para o estudo - o que também não é verdade. Um professor pode ser lindo, maravilhoso, encantador e deslumbrante e ainda assim ter alunos em sua turma que não possuem qualquer motivação para os estudos.
"Ah, mas quanto absurdo você está dizendo! Eu conheço alguém que começou a gostar de Matemática só porque o professor o incentivou. E também tem aquele que...". Bom, eu também conheço muitas pessoas nesse estilo. Eu mesma fui incentivada por excelentes professores que tive e já ouvi de diversos alunos o quanto minhas aulas os incentivaram a gostar de ler ou outras coisas assim. Mas, e aqueles por quem eu gastei metade dos meus neurônios e nunca consegui encontrar um jeito de motivar? E todos aqueles que estudaram comigo, tiveram os mesmíssimos professores que eu e ainda assim não queriam nada com a vida?
O que eu quero dizer é que existem questões morais que antecedem às questões didático-pedagógicas.
Uma virtude básica importantíssima para que alguém tenha um bom desempenho - seja na escola, seja na vida - é a fortaleza. Essa virtude, que se tornou uma palavra praticamente desconhecida no nosso mundo moldado pelo politicamente correto, cuja única função parece ser criar pessoas fracas, diz respeito a capacidade que um ser humano tem de enfrentar as dificuldades para propósitos nobres e bons. Agora veja: você não enfrenta nada enquanto assiste algo acontecer. "Enfrentar" é um verbo que implica movimento; uma ação com envolvimento intenso e que lembra luta, batalha, suor, cansaço e, muitas vezes, até lágrimas e sangue.
Mas, afinal, que relação essa virtude pode ter com ensinar a estudar? Por que falar sobre caráter quando o assunto é desempenho acadêmico? Pelo que eu já disse: estudar é difícil. Mesmo! Pergunte a qualquer pessoa que estuda de verdade. Eu já ouvi muitas vezes pessoas me dizendo: "Pra você é fácil porque você gosta de estudar." Não é não, gente! Ler textos difíceis cansa, pesquisar é complicado e escrever pode ser um exercício tão trabalhoso que às vezes dá vontade de chorar (sem exagero). Eu gosto, sim. Mas gosto porque o resultado desse trabalho - como de todos os bons trabalhos - me traz muita alegria. Pela graça de Deus meus pais me ensinaram a encontrar prazer em aprender e descobrir coisas. A questão é que até chegar lá onde a alegria mora existe um caminho a ser percorrido - e o resultado precisa valer a pena.
Agora veja a situação terrível em que estão nossas crianças: elas estão sendo ensinadas por professores que na maior parte do tempo culpam a si mesmos (e são apontados como culpados pela sociedade inteira) por não estar conseguindo motivar os alunos a aprender. "Precisa pôr mais tecnologia na sala de aula! Precisa dar aulas melhores para conter a evasão escolar! Precisa isso, precisa aquilo!". Muitas vezes os próprios pais assumem para si alguma culpa pelo fato de que a criança não estuda (e, consequentemente, não aprende). E enquanto isso, elas são ensinadas pela nossa sociedade que são vítimas de um sistema educacional ruim, uma escola ruim, uma vida ruim, e etc. No mesmo momento em que, o computador, a televisão e o videogame oferecem todo tipo de opções onde tudo é rápido, tudo é superficial, tudo é agitado e tão fácil que até ler um texto como esse, com um pouco mais de mil e quinhentas palavras, já é considerado um exercício impossível para a maioria de nós ("Isso não é um texto; é um livro!").
Agora me digam: como é que alunos moldados por esse sistema vão descobrir que, na verdade, aprender é algo que depende do trabalho deles? Como vão entender que, quando uma leitura está difícil, eles precisam ser fortes e perseverar no trabalho até conseguir vencê-lo e finalmente compreender o texto? Como vão aprender que prestar atenção em uma aula requer disciplina e autocontrole - que são uma verdadeira batalha contra nossa vontade de distrair o pensamento e voltar a atenção para outras coisas mais interessantes? Como vão aprender que o estudo é um exercício e que não podemos desistir no primeiro erro - nem no segundo, nem no terceiro, nem no que for necessário para que se encontre a resposta certa?
Quando estava no Ensino Médio eu tinha um professor de Biologia que mais faltava do que ia dar aula. Era escola pública, então não tinha muito o que fazer a respeito. Entrava um substituto que mandava a gente copiar qualquer coisa para passar o tempo. Eu ficava brava com aquilo e um dia reclamei para minha mãe, que assim não tinha como aprender. Ela me disse o que dizia sempre: "Quem faz a escola é o aluno. Pega o seu livro de Biologia e vai estudar". Meus pais nunca me deram a opção de me colocar como vítima do sistema; eles me fizeram ver que estudar era um trabalho meu e que eles esperavam que eu o fizesse.
Meu tempo com os alunos (tanto aqueles que têm um excelente desempenho nos estudos como aqueles com dificuldades para aprender) me tem feito pensar muito sobre tudo isso. E quanto mais estudo e pesquiso, mais acredito que o problema da nossa educação não é prioritariamente financeiro, nem pedagógico, nem mesmo estrutural; o problema da educação é, antes de tudo, moral. Se queremos que nossos alunos alcancem bom desempenho acadêmico, precisamos compreender a necessidade da educação do caráter e ensiná-los que aprender é consequência de um trabalho chamado "estudo". E que estudar dá, sim, muito trabalho.
Na educação por princípios nós usamos os princípios do autogoverno e do caráter cristão para ensinar às crianças que as dificuldades fazem parte da nossa vida e por meio delas nosso caráter é moldado por Deus, sendo necessário, para isso, aprender a governar a si mesmo de forma que suas decisões sejam tomadas com base em suas convicções, e não na sua vontade ou falta dela.
Antes, quando as crianças reclamavam que uma lição estava chata, eu me sentia culpada e pensava o que precisava fazer para motivá-los e deixar tudo mais divertido. Depois, minha resposta passou a ser: "Está chata porque é um exercício e dá trabalho. Seja forte e não desista até ter conseguido terminar. Imaginem que essa lição é uma pedra que apareceu no seu caminho. Se você se esforçar até conseguir ultrapassá-la, se tornará mais forte e vai lidar com as próximas pedras com maior facilidade; se desistir e sentar à beira do caminho, não só não se tornará mais forte, como também não chegará a lugar nenhum. Vamos, eu sei que vocês conseguem vencer essa!". Parece bobeira, mas com o tempo eles começaram a internalizar a ideia de que, assim como os heróis das boas histórias, que enfrentavam dragões e precisavam lutar com todas as forças, eles também têm suas pequenas batalhas e seus gigantes a derrotar. Essa é, aliás, mais uma razão para investir na formação literária das crianças e adolescentes. Coragem, perseverança, determinação - é isso que precisamos enfatizar! Porque a motivação precisa vir de dentro de um coração forte e pronto a vencer os desafios, custe o que custar.
Por Katarine Jordão
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