Qualquer um que tenha tentado desenvolver a paciência, praticar o perdão ou ser mais generoso, sabe que o desenvolvimento de uma virtude necessita de tempo. Um ato não faz a virtude, nem mesmo dois, três e nem quatro. A repetição dos atos é imprescindível. Porém é necessária uma grande sequência de ações similares para que a qualidade do ato virtuoso se converta em uma característica da forma de ser de uma pessoa (I-II,51, 2). Em princípio, todos somos torpes e ineptos no nosso empenho de fazer o bem, porque ainda não estamos suficientemente familiarizados com a virtude como para que esta se vai convertendo em nossa segunda natureza. Isto é o que faz a virtude em nós, nos dotam de uma «segunda natureza» no sentido de que trabalham e desenvolvem a primeira, isto é, o temperamento ou a personalidade com que temos nascido. Tomam em si o que temos herdado e recebido e adicionam sobre ele qualidades virtuosas; amassam nossa personalidade, adaptando-o e configurando segundo uma bondade determinada. Assim, como uma obra de arte, necessita-se de tempo para moldar-nos como pessoa de bom caráter. As virtudes são provas de como é difícil chegar a ser bom, porque não é um processo instantâneo, mas que se consegue por meio de muita prática, com uma trabalhosa repetição de atos capazes de realizar a transformação que vai da possibilidade de ser bom a ser realmente bom. Segundo Santo Tomás, todos temos uma inclinação para o bem, temos a capacidade inicial para a virtude, a possuímos de forma iniciada, mas devemos desenvolvê-la até que se faça em nós um hábito. Desenvolver uma virtude supõe tomar uma inclinação e fortalecê-la até que se converta em hábito. A pessoa virtuosa desenvolveu seu potencial para o bem, partindo de sua capacidade para o bom comportamento e reeducando-a até fazer dela uma aptidão estável e previsível. Todos podemos fazer o bem de vez em quando, mas se o fazemos ocasional ou casualmente e não de forma habitual, ainda não somos pessoas de virtude. É próprio da pessoa virtuosa fazer o bem, é o que se espera dela, pois tem praticado por tanto tempo que ela se tornou semelhante a própria bondade. Portanto, isso não é acidental, mas a marca de quem ele é. É por isso que Tomás diz que a virtude converte em boa tanto a ação como a pessoa que executa.
A princípio, ser bom nos é estranho, uma vez que ainda não somos. A princípio apenas balbuciamos o bem; necessitamos das virtudes para chegar a sermos eloquentes na bondade, e é imprescindível o tempo. Consideremos o quão difícil é fazer da compaixão nossa segunda natureza. Tornar-se bom é uma questão de praticar o bem durante muito tempo, ao menos o tempo suficiente para que a qualidade do ato bom já seja a compaixão, a paciência, a justiça ou o perdão, se transforme em uma qualidade pessoal do nosso ser. Para que isto ocorra, explica Tomás, «é necessário que o elemento ativo vença totalmente o elemento passivo» (ST, I-II, 51, 3). O «elemento passivo» representa o potencial; a capacidade para com a virtude. O «elemento ativo» é a qualidade de uma certa virtude que deve «atuar em» nós, que deve gravar seu bem específico em nossa pessoa para que, então, encarnemos a virtude. Quanto isto ocorre atuamos com justiça, com temperança ou com generosidade, porque as qualidades destes atos já são características de nós mesmos.
Ademais, quando Tomás afirma que não possuímos uma virtude até que a qualidade do ato virtuoso «nos vença totalmente», nos recorda que uma virtude é algo estável e firme. Não somos virtuosos se a qualidade do bem é inconstante; somente chegamos a sê-lo quando nossa bondade é previsível. Um único ato justo inicia a formação da justiça na pessoa, mas não é suficiente para imbuirmos da qualidade da justiça. Tomás, às vezes, usa a imagem do gotejamento da água em uma rocha. Assim como a água leva anos para deixar a sua impressão sobre a pedra, um ato virtuoso pode levar anos para imprimir a sua própria qualidade em nós. Se adquire uma virtude pouco a pouco, a qualidade do ato bom se imprime paulatinamente, transformando a pessoa desde suas potências para o bem até sua identificação com esse mesmo bem. A pessoa virtuosa quando tem o hábito de fazer boas ações, é plenamente virtuosa quando executa atos de justiça, misericórdia, compaixão ou perdão porque se ajusta ao que ela é e se expressa atuando deste modo; assim, a pessoa virtuosa não faz o bem por estar constrangida a isto, mas porque desfruta de ser ela mesma. Nas palavras do Aquinate, possuímos uma virtude quando tendemos a sua bondade «de modo natural».
Por Paul J. Wadell
Tradução Rafael de Abreu Ferreira
Ademais, quando Tomás afirma que não possuímos uma virtude até que a qualidade do ato virtuoso «nos vença totalmente», nos recorda que uma virtude é algo estável e firme. Não somos virtuosos se a qualidade do bem é inconstante; somente chegamos a sê-lo quando nossa bondade é previsível. Um único ato justo inicia a formação da justiça na pessoa, mas não é suficiente para imbuirmos da qualidade da justiça. Tomás, às vezes, usa a imagem do gotejamento da água em uma rocha. Assim como a água leva anos para deixar a sua impressão sobre a pedra, um ato virtuoso pode levar anos para imprimir a sua própria qualidade em nós. Se adquire uma virtude pouco a pouco, a qualidade do ato bom se imprime paulatinamente, transformando a pessoa desde suas potências para o bem até sua identificação com esse mesmo bem. A pessoa virtuosa quando tem o hábito de fazer boas ações, é plenamente virtuosa quando executa atos de justiça, misericórdia, compaixão ou perdão porque se ajusta ao que ela é e se expressa atuando deste modo; assim, a pessoa virtuosa não faz o bem por estar constrangida a isto, mas porque desfruta de ser ela mesma. Nas palavras do Aquinate, possuímos uma virtude quando tendemos a sua bondade «de modo natural».
Por Paul J. Wadell
Tradução Rafael de Abreu Ferreira
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